domingo, 7 de dezembro de 2008

O Pelicano


Ele sempre se pega pensando nos dias em que se fizeram presentes a felicidade.
Quem trouxera as afinidades e os modos de se praticá-las...
Encontra os objetos de desejos em um mundo de volúpias necessárias para os desejos. A ordem dos templários lhe falta...
Deseja sim, mas tão de repente solícito em si mesmo que acaba por enganar seus sentimentos e se aproxima da dor. Umas das formas medievais do prazer.
A dor física não é necessária às torturas da alma, entende –se por motivações de sentido. E agora, a prática do mal o envolve no que tem de intrínseco e o torna uma nova criatura às margens do querer.
Não lhe bastam os acontecimentos... não o isola os imãs opostos... a força que o atrai, e a natureza explica: é o semelhante.
De todos os males necessários para a sobrevivência, inclina-se a acreditar que deste, em especial, não sofre.
Não lhe quer de alma vazia. Não se exclui. Vive.
Quer derramar seu sangue e beber da taça o veneno só para delimitar a existência e transformar as inquietudes em paixão; absolver, assim, da culpa.
Todos temos um pouco de culpa. Porque a descoberta se dar a partir da perda absoluta da razão.
Assim, a vida transforma defeitos em virtudes, enquanto a ave da doação vaga pelos desertos da alma humana.
Ele tem treze anos.
(...)


Nem lhe parece ver a chaga aberta em sua alma, mas esconde o sorriso em meio a necessidade de se sentir completo, inteiro.
Como alguém que descobriu os líquidos que fazem a vida valer a pena, como a menarca, também o fora, a descoberta da vida.

Firmino, Luiz Alves. Maio, 2007(http://recantodasletras.uol.com.br/contos/846061 - acesso em 07/08/2008)

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